terça-feira, 20 de setembro de 2011

Minha culpa

Quantas vezes, quando ainda muito pequena, educada em uma igreja de crença cristã, me fizeram rezar uma oração em que eu dizia: - “ ...por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa...”
Eu, e acredito que todos dizíamos aquelas palavras sem entender exatamente o motivo pelo qual nós mesmos afirmávamos nos sentir enormemente culpados.
Assim era a nossa vida, tudo na mais normalidade...Estranho...muito estranho...
Todas as crianças já nasciam culpadas pelo que é chamado de “pecado original”, veja só!
Assim, fomos sendo criados, assim fomos crescendo...cheios de culpa, pelo que fazíamos e também pelo que nem sabíamos que fazíamos...
Meu Deus, quanta culpa! Quanta culpa! E a maioria, de graça! Que coisa mais sem graça!...
Estranho...muito estranho...
Daí, a gente vai crescendo e vai apurando o senso crítico e começa a entender o sentido das palavras ditas e das não-ditas do nosso Passado.
A gente vai desembaraçando as linhas torcidas que trazemos lá nas nossas entranhas, para identificar todos aqueles fios, para poder tecer uma outra composição, agora sob nossa coordenação.
É então, que neste processo aparecem uns buracos cravados entre o embaraço daqueles fios, obra das culpas que trazemos, que nos foram impostas, que nos impusemos sob pressão, culpa, culpa, uma montanha de culpas.
Ás vezes esta montanha é tão volumosa, tão pesada, que acaba por nos impedir de seguir adiante na vida, nos travando os pés e nos imobilizando a alma, aprisionada que se encontra sob aquela montanha pesada que parece tão intransponível, a nos sufocar, a nos encher de medo e de vergonha, a nos perturbar o sono. E dá-lhe sofrimento!...
E lá vamos nós atrás de alguém que possa nos ajudar a cavar fundo naquele buraco negro, e dá-lhe foco, para não nos perdermos nos detalhes, para não nos esquecermos de que o mais importante em tudo aquilo que escarafunchamos significa viver de maneira mais leve, verdadeira e feliz.
A culpa é uma arma poderosa, poderosíssima, de controle e de dominação.
Quando nos impomos uma montanha de culpas, automaticamente procuramos lá fora, nos outros, a sua parcela de contribuição para aquela situação vivida.
E é aí que começa um enrosco de fios, formando outros desenhos embaraçados, sem nos levar à clareza naquele universo embaraçado, confuso, caótico e escuro... Assim inicia-se um pesado processo de acusações, como se a vida fosse apenas uma grande sala de tribunal, um palco de um processo jurídico.
Por fim, muitas vezes, caímos cansados, decepcionados, desiludidos com tudo o que se escondia por debaixo de um grande e pesado tapete escuro que por tanto tempo cobriu tantas verdades não reveladas até então, porque não achamos uma maneira de nos livrar das culpas.
Mas, a grande lição a ser aprendida de toda esta experiência é apenas uma, a de que a culpa é uma arma perigosa e contundente, uma ferramenta certeira que só serve para fazer sofrer.
O único lado positivo da culpa é que ela nos induz ao perdão e a partir daí ela nos transforma em pessoas mais compassivas, mais compreensivas, mais maleáveis, menos preconceituosas, mais fraternas, portanto, mais felizes.
Porque, só se consegue enxergar o outro como passível de perdão, reconhecendo a sua imperfeição, depois que se consegue admitir nossas próprias imperfeições e perdoarmos a nós próprios, entendendo as circunstâncias que nos levaram a cometer aquela falha.
Então, é a partir deste momento que conseguimos estar de bem conosco mesmos e este é realmente o primeiro passo para praticar aquele ensinamento que Jesus usou para aprendermos a ser mais humildes, mais leves, mais compassivos e mais felizes: - “ Ama ao seu próximo como a si mesmo”.

Lúcia M.