segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Imagem


Guardadas por tanto tempo
nos porões dos sentimentos...
tantas lágrimas contidas
embaçam o meu olhar
embaraçam meu andar,
me corroem a todo momento.

As lágrimas de contentamento,
de emoção boa, que rega a terra,
escondo-as na expressão
que não se altera.

Tantos sentires confusos, solitários...
Quero gritar e me calo
Quero chorar e me seco
Quero a você abraçar
E não o faço, me guardo

No peito ofegante
me falta o ar...
Como se a cada momento
morresse um pouquinho
Como se a vida tivesse
se esvaindo, se indo,
silenciosamente se despedindo.

Nesta imagem de mim mesmo
plácido, impermeável
não me encontro,
não me acho,
neste olhar impenetrável.

Engano-me, engano o mundo
nesta imagem, que refletida
mostra um ser que não existe.
Confuso me perco, me vejo
no cenário desta vida
numa história invertida...

A alma chora, o peito dói.
Minha verdade onde está?
Onde se encontra o começo?
Tanto tempo em mim mesmo
e nem ao menos me conheço?

Lúcia M.

Um comentário:

  1. Que poema bonito Lúcia! Aqui vai mais um poema, como que dando continuidade a essas indagações da alma em busca de espelhos onde ela possa mergulhar e banhar-se em sua própria verdade e essência... a alma responde à beleza, pois é através dela que se reconhece florescência, e diante dela desabrocha, inebriando-se com seu próprio perfume, abrindo-se assim à auto-fecundação... por isso ela pede poesia e necessita de arte como o ar que respira, como a água onde se mira, e assim se recria, frutifica... a alma é feminina, doando-se ela se revitaliza, e tem tantas faces... assumindo sempre novas formas quando enfim se lança à correnteza da vida - destemida, ousada, amadurecida, co-criadora da Vida! A nossa alma é sempre uma alma de artista...
    Patrícia Pinna Bernardo

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