quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A raiva nossa de cada dia

Estive pensando a respeito da raiva, este sentimento tão real, tão humano e tão comum em nossas vidas e quero aqui compartilhar com você minhas elocubrações a respeito.
A raiva é uma reação natural que manifestamos quando alguém ou algum fato nos decepciona e nos pega de surpresa, nos irritando acima do suportável. Nosso emocional dispara na mesma freqüência de energia e aquele sentimento negativo em segundos se multiplica e se dissemina como uma chama de fogo ardente, que como num passe de mágica vai queimando tudo ao redor.
A gente berra, vocifera, agride, chuta, quebra, numa reação espontânea e completamente impensada.
E na seqüência, ai, que vexame!... A gente fica sem saber o que fazer sempre que o agredido, completamente contaminado com nossa fúria raivosa também tenha se inflamado acendendo ainda mais aquela chama ardente de descontrole emocional.
Se o agredido foi um objeto, tanto pior, nos resta catar os cacos do que destruímos e na pá de lixo deixar que nossas lágrimas lavem as partes quebradas a boiar...
Então, vive experiências daqui, vive ataques raivosos dali, escuta relatos de um e de outro e lá vamos nós tentar aparar as arestas e buscar uma maneira de se relacionar com o sentimento de decepção e de indignação sem se deixar envolver com uma descarga emocional negativa.
A manifestação completamente irracional de extravasar violentamente a raiva e todas as conseqüências advindas disto, a começar de um sentimento de decepção diante de nós mesmos e de vergonha diante do próximo (que testemunhou toda a cena sem entender nada e provavelmente apavorado), alimenta uma insatisfação pessoal tão grande em que nos sentimos diminuídos diante de nossos valores mais autênticos, motivando um circulo vicioso em que ou nos tornamos agressivos e passamos a ser identificados como tal ou nos recolhemos e emudecemos de vergonha reagindo agressivamente sempre que nos sentimos ameaçados.
Então, você que aqui está a ler o que vai pela minha cabeça e pela minha alma, quero lhe contar que a vida me ensinou a rota para modificar este tortuoso e torturante caminho nada estimulante que me levava a mergulhar na raiva como se fosse um cego náufrago num mar bravo e imprevisível.
Descobri tudo isto certa vez, quando criei umas pedrinhas nos rins de tanta raiva que senti. Pior do que dor de parto, foi quase um parto conseguir expulsar as pedras que havia criado irracionalmente.
Foi então, que me propus a buscar uma solução para o sentimento da raiva que de vez em quando aflorava com plena força de dentro de mim – algumas vezes reprimida e outras completamente exteriorizada. Afinal, não era mais possível conviver com tamanho estrago, que tantas conseqüências funestas trazia para minha vida.
E aprendi que o grande lance não é sublimar a raiva ou tentar controlá-la, mas, não se deixar envolver por ela, pois, sem envolvimento, não há o que ser sublimado ou reprimido.
Afinal, raiva contida pode se transformar em inúmeras manifestações físicas, podendo inclusive provocar a perda da voz, uma disfunção na glândula tiróide, problemas no fígado, aceleração do ritmo cardíaco, entre outras manifestações físicas.
Este é o grande segredo para que a energia fortemente negativa da raiva não mais faça parte de nossa vida, sendo substituída pela compaixão e pelo abandono do ego – nosso pior inimigo - que só serve para nos dificultar a vida.
Nas escrituras sagradas, Jesus não quis dizer que é para oferecermos o outro lado da face diante de um ato de agressão, mas, que diante de uma agressão, o melhor a fazer é mostrar ao agressor que há outras maneiras de respondermos a um desconforto, de que há outras formas de expressão mais inteligentes do que simplesmente reagirmos na mesma intensidade da energia negativa...
Isto é o que significa “dar a outra face”.

Lúcia M.

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