terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma inversão politicamente incorreta

Fico pasma ao perceber uma manobra do sistema em que órgãos públicos transferem sua responsabilidade, invertendo suas funções e penalizando o contribuinte interessado em preservar seu senso de cidadania e espírito de colaboração civil.
Fumar um cigarro em qualquer lugar público, mesmo ao ar livre, tornou-se uma infração digna de punição, tanto quanto se o mesmo cidadão estivesse circulando nu pelas ruas, atentando contra os pudores da sociedade...
As pessoas que cultivam o ato de fumar são, a cada dia mais, relegadas ao plano dos “pecadores”, marginalizadas, como se estivessem cometendo um grande crime contra a sociedade.
Confesso que já fui uma fumante “de carteirinha”; adorava fumar e fumava em locais fechados, sem nem sequer desconfiar o quanto isto incomodava o meu vizinho ao lado e infestava aquele ambiente de monóxido de carbono e de cheiros desagradáveis. Na verdade, não havia despertado ainda para o quanto estava fazendo mal para o meu organismo, antes de incomodar a quem quer que estivesse no mesmo ambiente. Hoje estou livre; fumar ficou no Passado.
Reconheço que fui fortemente influenciada pelo cinema, cujos atores e atrizes faturavam muito bem para disseminar o vício de fumar, inclusive entre as mulheres...
Naquela época este era um hábito estimulado pelo sistema. O cinema me convenceu de que me tornaria incrivelmente elegante, intelectualizada e adulta com um cigarro aceso na mão...
E embora hoje no mundo todo paira uma nuvem de pecado imperdoável sobre o vício de fumar cigarros, o governo embolsa um imposto altíssimo sobre a venda do cigarro, ao mesmo tempo em que faz a campanha para que os fumantes sejam vistos como transgressores pela sociedade.
Já as campanhas publicitárias estimulam fortemente a bebida alcoólica, especialmente a cerveja, dirigidas especificamente aos jovens, como algo considerado construtivo, digno de aplausos, normal, eu diria...
Assim tem sido também com a discussão hoje tão em moda sobre as famosas sacolas plásticas que embalam mercadorias de diferentes origens e valores.
O supermercado Pão de Açúcar, preocupado com os apelos da Mãe Gaia, embala as compras de seus clientes em sacolas de plástico biodegradável, atento à questão da preservação do ambiente.
Enquanto isto, as garrafas PET continuam habitando os rios e mares, entupindo bueiros, poluindo, poluindo,poluindo...e não se ouve nem uma menção dos órgãos públicos, no mundo inteiro, a respeito de regulamentar a fabricação destes materiais para que se tornem biodegradáveis...O mesmo acontece com as embalagens de medicamentos, com equipamentos diversos (especialmente na área hospitalar) feitos de material altamente poluente e não biodegradável...
Isto não quer dizer que acredito que toda a responsabilidade pela preservação da Natureza seja dos governos; reconheço que é uma ação conjunta de cidadãos, fabricantes e órgãos do governo, cada qual exercendo a sua função neste processo..
Mudança de costumes se conquista a partir de dois pilares: novas soluções para as questões, o exemplo, campanhas de esclarecimento e o acompanhamento por parte dos representantes do governo, para fiscalização e repreensão no caso de leviandade com respeito ás regras estabelecidas.
A inversão dos papéis tem sido tão presente, que o contribuinte se vê pressionado o tempo todo, por todos os lados, frustrado por constatar que o “outro lado” representado pelo poder público (composto por indivíduos eleitos por ele mesmo) se sensibiliza muito pouco pela causa maior, pelas necessidades diárias da população, mas, se mostra plenamente sensível a seus interesses pessoais.
Se o governo quer preservar a saúde do cidadão, que proíba a fabricação de cigarros. Se o governo não deseja ver sacolinhas de plástico e garrafas pet boiando nos rios e entupindo bueiros, exija então que esses materiais sejam biodegradáveis.
O que eu quero dizer é que o sistema/governo deve atuar na origem do problema e não penalizar o consumidor.
Mas como o governo arrecada milhões em impostos sobre estes produtos, não proíbe a sua fabricação e opta por penalizar o consumidor.
E aí, estes órgãos governamentais, que deveriam exercer a atividade de regulamentadores dos itens que degradam a qualidade de vida, passam a atuar como agentes aplicadores de sanções e multas ao cidadão.
É mais do que hora de nos sentirmos respeitados, valorizados e recompensados pelos impostos (que não são poucos) que pagamos pontualmente, além de todas outras ações tomadas em prol do bem comum e da preservação da Natureza, cumprindo nossas obrigações como cidadãos!

Lúcia M.

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