Quando era criança existia
uma revista mensal chamada “Seleções Rea-
der´s Digest”, que trazia artigos leves, crônicas, receitas, dicas de saúde e alimentação, aquele tipo de leitura bom para ser degustado depois de um almoço no domingo preguiçoso numa rede, apenas divagando sem pressa e sem compromisso, uma leitura realmente digestiva, como o nome diz.
der´s Digest”, que trazia artigos leves, crônicas, receitas, dicas de saúde e alimentação, aquele tipo de leitura bom para ser degustado depois de um almoço no domingo preguiçoso numa rede, apenas divagando sem pressa e sem compromisso, uma leitura realmente digestiva, como o nome diz.
A sessão da revista que eu
mais gostava chamava-se “Meu tipo inesquecível” e trazia histórias de pessoas
inesquecíveis que marcaram a vida de alguém por suas peculiaridades.
Pois, há algum tempo atrás
tive a oportunidade de capturar este título através de uma pessoa que era mesmo
muito especial.
Seu nome era Alfredo, um
dínamo de energia e muito falante. Ex-comandante de navios da Marinha do
Brasil.
Vaidoso, se cuidava muito e cultivava sua boa aparência, afinal, era bonitão e as mulheres se encantavam com seus belos olhos azuis, com o seu charme e com a sua disposição para viver, viajar, dançar, namorar e imagino que deva ter sido daqueles marinheiros que deixam uma apaixonada em cada porto.
Vaidoso, se cuidava muito e cultivava sua boa aparência, afinal, era bonitão e as mulheres se encantavam com seus belos olhos azuis, com o seu charme e com a sua disposição para viver, viajar, dançar, namorar e imagino que deva ter sido daqueles marinheiros que deixam uma apaixonada em cada porto.
Era um homem livre por
excelência, detestava receber ordens de quem quer que fosse ou de sentir que
alguém ousasse pensar em controlar a sua vida. Pelo contrário; o que ele
gostava era de dar ordens e de se sentir no comando.
Com 93 anos de idade e uma
disposição excepcional para viver, Alfredo encontrava-se debilitado devido a
problemas circulatórios, o que o impedia de fazer tantas viagens quando
gostaria e de participar de tantos eventos quanto estivera acostumado em toda
sua vida.
Sabíamos que se encontrava
em plena convalescença após um longo processo de idas e vindas em hospitais por
conta dos problemas circulatórios
então, fomos visitá-lo para usufruirmos um pouquinho da sua agradável
companhia.
Lá chegando, logo
encontramos no saguão do prédio um dos seus filhos acompanhado da esposa, que
nos saldou alegremente, dizendo que o pai estava ansioso aguardando por nossa
chegada.
Chegando em sua casa fomos
logo vê-lo e cumprimentá-lo em seu quarto. Encontramos o Alfredo deitado,
coberto até o pescoço, com uma carinha comovente. Assim que nos viu, abriu um
sorriso, jogando a coberta longe e ...surpresa...ele já se encontrava
impecavelmente vestido e arrumado para sair para almoçar conosco, faltando
apenas calçar os sapatos.
Com ar de maroto, nos
confidenciou que o filho era muito exigente com ele e com os cuidados para com a
sua saúde e pensava estar controlando todos os seus passos, especialmente,
quando se tratava de sair em viagem ou de participar de algum encontro social,
que era justamente o que ele mais gostava de fazer na vida...
Como o filho estivera lá até
aquele momento e acabara de fazer mil e uma recomendações em torno deste
assunto, impondo inúmeras restrições, e como ele nos aguardava ansiosamente e
havia programado almoçar conosco no restaurante de sua preferência, achou mais
conveniente se fingir de muito doentinho, deitado sob as cobertas, embora
pronto para o passeio...
E lá fomos nós, felizes e
ele mais ainda, a um delicioso almoço na sua agradável companhia.
Morremos de rir e ficamos
ainda mais encantados com a vitalidade, disposição e presença de espírito do
Alfredo.
Alguns meses depois deste
episódio, Alfredo veio a falecer durante uma viagem de navio pela Alemanha na
companhia da sua dedicada e amorosa filha, sua fiel acompanhante nos últimos
anos da sua vida.
Apesar de seu estado
debilitado, passou para o outro plano, provavelmente, como havia sempre sonhado em segredo:
viajando a bordo de um navio em boa companhia e portanto, feliz.
Grande figura, Alfredo...um
“tipo inesquecível”, um estímulo á vida!
Que se encontre banhado de
luz onde estiver neste momento.
Namastê
Lúcia M.
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