quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O côco e a pedra

Independente se acreditamos que só se vive uma vez ou não, quero comentar com você algo que anda rondando minha alma e minha cabeça ultimamente.
Como todos nós fomos educados e criados dentro de uma “ética” moral -religiosa que nos colocava o tempo todo sob a ameaça de sermos mandados para o “fogo do inferno” quando pecávamos ou causávamos algum mal a alguém, fomos crescendo sob um clima de terror representado por severos julgamentos, por acusações e por muita culpa  - sem a menor compaixão.
Assim, nossa ficha pessoal de transgressões foi se enchendo ao longo das décadas e o sentimento de culpa enchendo todos os espaços do nosso coração, nos levando a uma tendência à baixa-estima e à crítica severa a nós mesmos.
A grosso modo, éramos estimados e “amados”, desde que correspondêssemos á expectativa de que depois da nossa morte, seríamos aguardados às portas do Céu por São Pedro, que após consultar a nossa ficha das contravenções cometidas, seguida da realização de uma sucinta avaliação, nos receberia de braços abertos e seríamos então classificados como “merecedores do reino dos Céus e das bênçãos do Pai ”.
A conseqüência desta maneira de ver e de enxergar o outro, gerou profundas distorções na história da Humanidade, como o fato de que uma grande parcela da população mundial ainda aceita a “pena de morte” como algo adequado em uma sociedade ou como o fato da existência de guerras desumanas em profusão por todos os quatro cantos do mundo, ou ainda o fato das mulheres em alguns países do Oriente Médio e na Índia serem ainda consideradas impuras quando menstruam e outras inúmeras circunstâncias em que o ser humano, os animais, a Natureza como um todo, são tratados sem o devido respeito e consideração e como sendo merecedores de nossa crítica e condenação.
Crescemos sem saber que podemos “dar a volta por cima” e nos perdoar por faltas e deslizes que cometemos por inexperiência, imaturidade ou mesmo por pura ignorância.
Tais sentimentos, guardados nos porões de nossas entranhas nos fizeram reféns de nós próprios, gerando uma montanha de “pecados” que nos impediam de nos amarmos sem amarras e nos levava a agirmos da mesma maneira e com o mesmo rigor e desamor para com o próximo, fosse ele quem fosse: um familiar, um amigo, o vizinho, o colega, etc.
Hoje temos o privilégio de estarmos vivendo em uma época de total revisão de valores e de conceitos, derrubando velhos paradigmas para adentrarmos a um mundo que cultiva a paz.
Esta geração de crianças que está nascendo sabe disto e elas já chegaram plenamente preparadas para viver em tempos de paz e de compaixão – por si mesmas, pelos seus familiares, pelo seu próximo, pelos mares e rios, pelos animais, pelas aves e peixes, pelo planeta que habitam, etc, como muito bem explicitado neste filminho do “Youtube”:
Mas, nós, de outra geração, ainda temos uma longa caminhada para conseguir conquistar a paz dentro de nossos corações e mentes, partindo de uma nova postura de humildade, em que o nosso primeiro passo é o auto-perdão, a auto-compaixão. Os próximos passos nos levarão à plena auto-estima, o que não significa arrogância e vaidade, mas, amar-se de verdade.
Este é o momento para a mudança e exige de todos nós o exercício diário de uma revisão, de rompimento daqueles paradigmas que foram os responsáveis por arrastar toda a Humanidade para o estado de carência afetiva e de caos em que se encontra hoje.
A Teoria do Caos diz que quando uma borboleta bate suas asas no Oriente, sua ação provoca um furacão no Ocidente. Portanto, qualquer ação sempre produzirá uma reação, por mais insignificante que seja.
Embora possa parecer que vivemos uma situação sem saída em termos de conflitos e sentimentos negativos, podemos começar já a busca pela paz, começando por nós mesmos.
Podemos começar já uma profunda faxina em nossos porões pessoais, por mais doloridas que possam nos parecer as cenas que teremos que rever na nossa memória  para reavaliá-las sob nova ótica emocional. Pode ser que o processo seja dolorido, mas, é certo que nos conduzirá à paz íntima e ao surgimento de novos sentires a um até então desconhecido e enriquecedor sentimento de auto-estima e de gratidão.     
Enquanto uma parcela do todo que somos nós vive este processo, num ato de humildade e de amor a si próprio, uma nova energia reverbera no ar, refletindo um forte desejo de construir a paz, sem climas auto-punição, de terror e de castigo, sem vinganças, sem julgamentos, sem nos comportarmos como juizes rigorosos a nos condenar e a condenar quem quer que seja.
Uma nova freqüência de energia encherá a atmosfera tornando-a leve, colorida, como a alegria de uma criança que se sente segura e muito amada.
Um fato real ilustra com bastante clareza a dimensão deste processo, a seguir:  

Haviam 2 ilhas distantes uma da outra, ambas habitadas apenas por animais e especialmente, por macacos. Um belo dia, um macaco de uma das ilhas descobriu que batendo o côco em uma pedra conseguia abri-lo e saborear seu conteúdo e beber de sua água. Os outros macacos habitantes daquela ilha observaram aquele fato novo e fantástico. A partir daquele instante, todos os macacos daquela ilha passaram a agir da mesma maneira para abrir um côco e este fato passou a fazer parte do comportamento e do inconsciente coletivo daquela população. Algum tempo depois, na outra ilha distante, um macaco começou a abrir o côco batendo-o em uma pedra, repetindo o gesto dos macacos da primeira ilha, mesmo sem ter tido qualquer contacto com os primeiros. Após a incorporação do costume da segunda ilha, a técnica de abrir côco também passou a fazer parte do inconsciente coletivo da segunda ilha.
Esta história, que é real, nos demonstra que existe uma comunicação não-verbal, um processo de transmissão de conceitos abstratos, de idéias, de sentimentos e de atitudes, capaz de atravessar grandes distâncias dentro do globo terrestre a partir de uma comunidade e que se expande indefinidamente, moldando culturas, comportamentos e crenças.
Pense nisto e quebre o seu côco com uma pedra...
Façamos a nossa parte – pela paz.


Lúcia M.

Um comentário:

  1. Oi, Lúcia, gostei muito do seu texto, por duas razões: a primeira é porque estou lendo um livro que fala exatamente o que vc descreveu aqui (o sentimento de culpa, da falta do auto-perdão etc.) e segundo, pela história dos macacos que não conhecia, mas vou contá-la em alguma palestra, com certeza. Obrigada, amiga. Beijão.

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