Independente se acreditamos
que só se vive uma vez ou não, quero comentar com você algo que anda rondando
minha alma e minha cabeça ultimamente.
Como todos nós fomos
educados e criados dentro de uma “ética” moral -religiosa que nos colocava o
tempo todo sob a ameaça de sermos mandados para o “fogo do inferno” quando pecávamos
ou causávamos algum mal a alguém, fomos crescendo sob um clima de terror
representado por severos julgamentos, por acusações e por muita culpa - sem a menor compaixão.
Assim, nossa ficha pessoal
de transgressões foi se enchendo ao longo das décadas e o sentimento de culpa
enchendo todos os espaços do nosso coração, nos levando a uma tendência à
baixa-estima e à crítica severa a nós mesmos.
A grosso modo, éramos estimados
e “amados”, desde que correspondêssemos á expectativa de que depois da nossa
morte, seríamos aguardados às portas do Céu por São Pedro, que após consultar a
nossa ficha das contravenções cometidas, seguida da realização de uma sucinta
avaliação, nos receberia de braços abertos e seríamos então classificados como
“merecedores do reino dos Céus e das bênçãos do Pai ”.
A conseqüência desta maneira
de ver e de enxergar o outro, gerou profundas distorções na história da
Humanidade, como o fato de que uma grande parcela da população mundial ainda
aceita a “pena de morte” como algo adequado em uma sociedade ou como o fato da
existência de guerras desumanas em profusão por todos os quatro cantos do mundo,
ou ainda o fato das mulheres em alguns países do Oriente Médio e na Índia serem
ainda consideradas impuras quando menstruam e outras inúmeras circunstâncias em
que o ser humano, os animais, a Natureza como um todo, são tratados sem o
devido respeito e consideração e como sendo merecedores de nossa crítica e condenação.
Crescemos sem saber que
podemos “dar a volta por cima” e nos perdoar por faltas e deslizes que
cometemos por inexperiência, imaturidade ou mesmo por pura ignorância.
Tais sentimentos, guardados
nos porões de nossas entranhas nos fizeram reféns de nós próprios, gerando uma
montanha de “pecados” que nos impediam de nos amarmos sem amarras e nos levava
a agirmos da mesma maneira e com o mesmo rigor e desamor para com o próximo,
fosse ele quem fosse: um familiar, um amigo, o vizinho, o colega, etc.
Hoje temos o privilégio de
estarmos vivendo em uma época de total revisão de valores e de conceitos,
derrubando velhos paradigmas para adentrarmos a um mundo que cultiva a paz.
Esta geração de crianças que
está nascendo sabe disto e elas já chegaram plenamente preparadas para viver em
tempos de paz e de compaixão – por si mesmas, pelos seus familiares, pelo seu
próximo, pelos mares e rios, pelos animais, pelas aves e peixes, pelo planeta
que habitam, etc, como muito bem explicitado neste filminho do “Youtube”:
Mas, nós, de outra geração,
ainda temos uma longa caminhada para conseguir conquistar a paz dentro de
nossos corações e mentes, partindo de uma nova postura de humildade, em que o
nosso primeiro passo é o auto-perdão, a auto-compaixão. Os próximos passos nos
levarão à plena auto-estima, o que não significa arrogância e vaidade, mas,
amar-se de verdade.
Este é o momento para a
mudança e exige de todos nós o exercício diário de uma revisão, de rompimento daqueles
paradigmas que foram os responsáveis por arrastar toda a Humanidade para o
estado de carência afetiva e de caos em que se encontra hoje.
A Teoria do Caos diz que quando
uma borboleta bate suas asas no Oriente, sua ação provoca um furacão no
Ocidente. Portanto, qualquer ação sempre produzirá uma reação, por mais
insignificante que seja.
Embora possa parecer que
vivemos uma situação sem saída em termos de conflitos e sentimentos negativos,
podemos começar já a busca pela paz, começando por nós mesmos.
Podemos começar já uma
profunda faxina em nossos porões pessoais, por mais doloridas que possam nos
parecer as cenas que teremos que rever na nossa memória para reavaliá-las sob nova ótica emocional. Pode
ser que o processo seja dolorido, mas, é certo que nos conduzirá à paz íntima e
ao surgimento de novos sentires a um até então desconhecido e enriquecedor
sentimento de auto-estima e de gratidão.
Enquanto uma parcela do todo
que somos nós vive este processo, num ato de humildade e de amor a si próprio,
uma nova energia reverbera no ar, refletindo um forte desejo de construir
a paz, sem climas auto-punição, de terror e de castigo, sem vinganças, sem
julgamentos, sem nos comportarmos como juizes rigorosos a nos condenar e a
condenar quem quer que seja.
Uma nova freqüência de
energia encherá a atmosfera tornando-a leve, colorida, como a alegria de uma
criança que se sente segura e muito amada.
Um fato real ilustra com
bastante clareza a dimensão deste processo, a seguir:
Haviam 2 ilhas distantes uma
da outra, ambas habitadas apenas por animais e especialmente, por macacos. Um
belo dia, um macaco de uma das ilhas descobriu que batendo o côco em uma pedra
conseguia abri-lo e saborear seu conteúdo e beber de sua água. Os outros
macacos habitantes daquela ilha observaram aquele fato novo e fantástico. A
partir daquele instante, todos os macacos daquela ilha passaram a agir da mesma
maneira para abrir um côco e este fato passou a fazer parte do comportamento e
do inconsciente coletivo daquela população. Algum tempo depois, na outra ilha
distante, um macaco começou a abrir o côco batendo-o em uma pedra, repetindo o
gesto dos macacos da primeira ilha, mesmo sem ter tido qualquer contacto com os
primeiros. Após a incorporação do costume da segunda ilha, a técnica de abrir côco
também passou a fazer parte do inconsciente coletivo da segunda ilha.
Esta história, que é real,
nos demonstra que existe uma comunicação não-verbal, um processo de transmissão
de conceitos abstratos, de idéias, de sentimentos e de atitudes, capaz de
atravessar grandes distâncias dentro do globo terrestre a partir de uma
comunidade e que se expande indefinidamente, moldando culturas, comportamentos
e crenças.
Pense nisto e quebre o seu côco
com uma pedra...
Façamos a nossa parte – pela
paz.
Lúcia M.
Oi, Lúcia, gostei muito do seu texto, por duas razões: a primeira é porque estou lendo um livro que fala exatamente o que vc descreveu aqui (o sentimento de culpa, da falta do auto-perdão etc.) e segundo, pela história dos macacos que não conhecia, mas vou contá-la em alguma palestra, com certeza. Obrigada, amiga. Beijão.
ResponderExcluir